Afetividade e Mediação na Aprendizagem Frente aos Desafios do TDAH
Olá,
Uma das coisas mais gratificantes do meu trabalho é poder contribuir de forma positiva na vida de pessoas queridas, principalmente em tempos de Pandemia do Coronavirus (COVID-19), em que a Educação Escolar tornou-se a grande protagonista, mediante a disseminação comunitária do vírus, causando, assim, um grande impacto na rotina de milhares de Famílias, frente ao desafio do Ensino online.
O case de hoje envolve um menino muito querido e inteligente chamado Henrique e toda a sua incrível família.
Da esquerda para a direita: Cris, Helena, Henrique e Léo.
Quando as aulas passaram para o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), por causa do Coronavirus 19, Henrique, que é portador de TDAH, teve alguns problemas de adaptação. O que acabou ocorrendo com a grande maioria das famílias brasileiras.
TDAH, é a sigla que representa o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade - uma síndrome de base genética cujo déficit está relacionado com a regulação de um determinado conjunto de funções cerebrais e comportamentos relacionados.
Entre as principais características do TDAH está a dificuldade em regular a atenção, em controlar impulsos e hiperatividade. Já, na cognição, o transtorno pode dificultar na concentração, gerando o esquecimento ou falta de atenção.
Sendo assim, um dos maiores desafios para Cristiane, mãe de Henrique, foi conseguir conciliar as atividades escolares com a rotina doméstica, coordenar atividades didáticas, que requerem a atenção e a concentração do seu filho, dentro de um ambiente que não estava preparado para o ensino.
Pensando nisso, a partir de alguns pressupostos da Neurociência e da Psicopedagogia, busquei identificar as dificuldades prévias do Henrique, que estavam impactando no processo de ensino e aprendizagem e diretamente no ambiente familiar e no vínculo entre pais e filhos. Após essa coleta de dados, elaborei algumas estratégias e objetivos com a finalidade de dimunuir esses impactos, e, que, agora, com a permissão dos pais, desejo compartilhar com vocês.
Ou seja, antes de elaborar qualquer plano foi preciso, em primeiro lugar, mapear as dificuldades, para, somente depois, buscar as respostas que o cérebro do Henrique necessita.
Para aprender a processar as informações, o indivíduo com TDAH necessita de estímulos, capazes de promover o aprendizado.
De acordo com a literatura científica, a atenção é fundamental para que o conhecimento seja adquirido, pois, o sistema nervoso absorve a informação, quando a pessoa está atenta ao objeto do conhecimento. Assim como a inteligência humana está intimamente ligada à emoção.
Neste sentido, a participação proativa e objetiva da família, por meio de literacia, projetos artísticos e atividades didáticos-pedagógicas, podem vir a contribuir para a aquisição do conhecimento, o fortalecimento do vínculo afetivo familiar e da autoestima do estudante. Além de potencializar o desenvolvimento das habilidades cogntivas e das funções executivas de forma bastante positiva.
Neste contexto, um ambiente colaborativo faz toda a diferença quando o assunto é o aprendizado de crianças com TDAH.
Mas, abrindo, aqui, um "parenteses" sobre a capacidade de aprendizagem do ser humano: a plasticidade neural é a capacidade do cérebro em desenvolver novas conexões sinápticas entre os neurônios, por intermédio da experiência e do comportamento do indivíduo. Ou seja, para aprender o cérebro precisa ser desafiado, estimulado e reestruturado a todo tempo em suas potencialidades. Esses estímulos, mudanças na organização e na localização dos processos de informação, são diretamente influenciados pelo ensino explícito, pelo uso sistemático de recursos didáticos-pedagógicos e tecnológicos, instrumentos metodológicos e de avaliação e de ferramentas de aprendizagem que compõem o Processo de Aprendizagem na ação didática. Eric Kendel (Pai da Neurociência) diz que somos produtos das nossas sinapses: "Somos quem somos por causa daquilo que aprendemos e lembramos. Nem tudo se explica por conflitos psíquicos nem por neurotransmissores alterados". Ou seja, o cérebro pode alterar-se, curar-se e mudar-se, pois tem a capacidade de mudar também através de novas aprendizagens e novas conexões e memórias geradas em sala de aula, na produção da lição de casa, por meio da memória dos fatos e a memória da associação, importantíssima para a aprendizagem de qualquer indivíduo. Dito isso, um sujeito sem memória, é um sujeito sem história.
Sendo assim, durante o percurso de aprendizagem do Henrique, ele foi desafiado a produzir uma releitura de uma obra de arte' sobre o tema 'As Quatro Estações de Vivaldi'. Mas para melhor delimitar o tema, foi sugerido que ele escolhesse, apenas umas das estações para retratar. Henrique escolheu a Primavera. 🌼🌻🌷
Para a realização desta atividade, trabalhamos a partir dos Objetivos Educacionais, constituídos pelo CHA (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes), que correspondem à aquisição organizada do conhecimento, ao desenvolvimento das habilidades sensório-motoras, por meio da técnica e do treino em atividades supervisionadas, e à compreensão de ideias e valores, através da leitura da biografia e pesquisa sobre a obra do autor e discussões sobre o tema, organização dos materiais e do projeto.
Neste aspecto, usamos um roteiro de aula, para definir as etapas, e a mediação da mãe, que potencializou, por meio do vínculo biólogo, o interesse e a participação do Henrique nas atividades (Na lição de casa ou nas atividades onine, o controle do ambiente e a interação entre o aluno e o tutor são essenciais para a apreensão do conhecimento e a imersão no mundo da imaginação e da criatividade).
É sabido que quaisquer distrações no ambiente podem afetar o desempenho de crianças com TDAH. Portanto, tudo o que acontece, ou não, no entorno fará toda a diferença no momento de conduzir uma atividade e afetará no desempenho do aluno e, consequentemente, na qualidade do trabalho proposto.
Deste modo, Helena contribuiu decisivamente, ao participar da atividade, colorindo árvores.
O pai não participou ativamente, pois estava no trabalho. Mas, se estivesse em casa, a recomendação adequada consiste em: não ligar o rádio ou a TV, não ouvir música, mesmo com o som baixo, não realizar consertos etc.
A ação de reduzir ao máximo os ruídos e os elementos de distração no ambiente, como: TV, rádio, notificações de celular entre outros, assim como: crianças brincando ao entorno, pessoas abrindo e fechando geladeira ou cozinhando, é parte essencial do planejamento estratégico em projetos elaborados, especialmente, para crianças com TDAH. Portanto, pensar nesses problemas domésticos, de forma prévia, é importante momento da elaboração do Plano de Trabalho Docente ou do Plano de Aula.
A identificação das dificuldades prévias do Henrique e as ações que se seguiram, como: a redução dos ruídos no ambiente, contribuiram, inclusive, para a diminuição da dispersão aleatória, ou seja, da quantidade de vezes que a criança com TDAH levanta-se sem algum propósito.
Henrique, 9 anos
Helena, 3 anos
A afetividade da Helena, a associação do conhecimento com as habilidades e a orientação da mãe funcionaram como estímulos, auxiliando na apreensão das informações. Sendo que, cada etapa do roteiro de aula foi elaborado a partir da análise das características e necessidades do aluno, criando memórias, fazendo sinapses etc., tendo como meio a Obra de Vivaldi.
Roteiro de Aula (Proposta ECI)
♡ Releitura das Quatro Estações (Le Quattro Stagioni", 1725), do compositor italiano Antonio Vivaldi (1678-1741).
♡ Objetivos gerais e específicos:
◇ conhecer a obra do autor;
◇ desenvolver as hábildades visomotoras, através da grafomotricidade;
◇ desenvolver a criatividade.
♡ Atividades: Desenho, Pintura e Colagem
1- Material: Folha A4. Lápis n° 2; Lápis coloridos. Giz de cera; cola, tesoura sem ponta etc.;
2- Impressos ou cópia de notas musicais, árvores ou elementos da Natureza que representam as quatro estações do ano em Vivaldi.
3- Música tema, retirada do YouTube
Etapas (ação):
1- Escolher o ambiente e mobiliário (mesa, cadeira etc.), onde a atividade será realizada;
2- Pesquisar na Internet, em livros, jornais e revistas e partituras as imagens e textos que representem a vida e obra do autor;
3- Pesquisar no YouTube, ou outras mídias, as músicas de Vivaldi;
4- Escolher a música de inspiração, ouvindo-a com a criança (divirtam-se encenando a Regência ou imitando os instrumentistas), sempre dialogando sobre a beleza da composição.
5- Posicionar os recursos didáticos, de forma estratégica, sobre a mesa;
6- Explicar como será a atividade (começo, meio e fim); quais materiais usar etc.;
7- Corrigir a postura do aluno e preensão do lápis;
8- Auxiliar nas partes mais complexas;
9- Dar orientações e elogios a cada etapa concluída, como: Faça assim/:Assim é mais difícil! /Muito bem! / Você está no caminho certo! / Parabéns! etc.;
10- Desenhar as formas;
11- Escolher as formas; pintar, recortar e colar;
12- Finalizar o projeto.
Observações:
1- as experiências sensório-motoras e de audiovisual - grafismo, habilidade visomotora (percepção visual, coordenação olho-mão) e a percepção auditiva -, propostas nesse roteiro, consistem no aprimoramento dos estímulos que o aluno necessita para ativar o seu processo de criação, comunicação e expressão das ideias.
2- Aplicar feedback elogiando o desempenho do aluno, apontando melhorias e perguntando o que o aluno gostou mais na atividade, o que sentiu etc., deve ser uma prática, docente e dos pais, recorrente.
Etapas do Conhecimento:
1- Pesquisa
Comentários da Cris sobre a percepção de Helena, sua filha, ao que se refere a obra de Vivaldi:
"Helena disse que as flores vermelhas e rosas são lindas..." 🌷⚘❤
Resposta do Henrique, após esta experiência:
"Henrique disse que achou legal". 😀🤗👏💙
Henrique tem 9 anos e cursa o 4° ano do Ensino Fundamental I, em uma Escola Privada.
Helena teve as aulas formais interrompidas durante a Pandemia, todavia, em contrapartida, ela teve aulas online, pelo método o Método Classico, com a Professora Selma Palenzuela.
Descrição das Imagens: Henrique e Helena realizando uma releitura sobre a Obra (Música) de Vivaldi, Quatro Estações.
Texto:
Selma Palenzuela
Pós-graduada em Educação, graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Professora de Língua Portuguesa e de Alfabetização Clássica.
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